AS* PAPANGUS, 2022-
Ato I e Ato III, performance no Bananal Arte e Cultura Contemporânea, São Paulo/SP.
Qual é o espaço para os nossos corpos na cidade, nas ruas, e nos carnavais? Quando o corpo da mulher é considerado público ou privado? Qual a qualidade desses corpos nestes dois lugares? O que eles enfrentam e quando eles se deleitam? Quem tem direito ao anonimato festivo e quem faz a segurança durante essa possibilidade de prazer no coletivo?
Estas e muitas outras perguntas acompanharam o processo de construção da performance AS* PAPANGUS, idealizada pela artista Bruna Amaro. Dividida em três atos que ocorreram em São Paulo, abril 2022, Berlin em maio de 2022, e novamente em São Paulo em fevereiro de 2023, participaram desse processo ao todo mais de 70 mulheres. Para os três atos foram propostos encontros que antecederam a performance com o objetivo de pensar e estruturar o que as motivam e as fortalecem a estar nas ruas num cortejo festivo. As vestimentas e máscaras utilizadas pelos dois grupos têm como referência inicial a figura dos Papangus - que teve sua origem na cidade de Bezerros, Pernambuco - mas traz uma nova perspectiva pensando estes corpos-bandeiras como expressão de desejos e presença numa sociedade que os violenta diariamente.
O Brasil ocupa hoje o 5º lugar onde mais se matam mulheres no mundo, o 1º quando estas são mulheres trans. A base de números sobre a violência de gênero no país e o seu aumento em 20% no período do carnaval foi um dos disparadores para a artista pensar na criação de um momento suspenso mas presente em que mulheres pudessem viver as ruas, os seus corpos e seus desejos.
Nas vestimentas costuradas pela artista e sua mãe, Eliana Amaro dos Santos, as performers foram convidadas a pensarem em palavras-desejos, que foram bordadas à mão por cada uma delas. As vestimentas usadas em São Paulo foram levadas para Berlin para compor a videoinstalação AS* PAPANGUS - our carnival, our bodies, our fight. Como em São Paulo, as participantes de Berlin foram convidadas a escolherem e bordarem suas palavras-desejos. As vestimentas carregam hoje palavras em português, inglês, alemão, curdo, azeri e koreano.
A performance é um exercício de construção de um novo imaginário, onde um grupo de mulheres propõe uma presença física contrária à sexualização de seus corpos, e preenche o espaço público de maneira coletiva e festiva. Ela revelou-se também como uma ferramenta de conexão entre mulheres ao redor do mundo e de compartilhamento dos lugares em que seus corpos se diferenciam e se conectam.
Para a exposição em Berlin a artista e a curadora Dami Choi preparam também uma série de conteúdos relacionados à violência de gênero no Brasil que foram compartilhados nas redes sociais da instituição e criaram um espaço na exposição onde artigos e livros estão disponíveis para a consulta pelos visitantes.
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Em 2022 a performance AS* PAPANGUS foi um projeto comissionado pela instituição Oyoun | Kultur NeuDenken gUG e teve o apoio do Goethe Institut. No ano de 2023, ela aconteceu como Ato III de maneira autônoma a partir da organização das mulheres interessadas em ocupar mais uma vez as ruas da Barra Funda, bairro de São Paulo, no sábado de pré-carnaval.
As papangus, 2020
aquarela e nanquim sobre papel algodão,
30 x 42cm